Comunicação independente e interativa em comunidades é destaque na 9ª Expo Brasil

A atuação de veículos de comunicação independentes e da grande imprensa em comunidades carentes, como o Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, e a recente cobertura jornalística durante sua invasão pelas autoridades policiais. Esses foram alguns temas do painel ‘Comunicação Comunitária Interativa’, apresentado durante a 9ª Expo Brasil Desenvolvimento Local, realizada dia 2 de dezembro, no Rio de Janeiro. Na ocasião, estiveram presentes Luiz Fernando Sarmento, integrante da assessoria de projetos comunitários do Sesc Rio; Cassio Martinho, jornalista e consultor em gestão de redes, e Victor Ribeiro, coordenador da rádio comunitária Madame Satã, criada em 1999, na Lapa, Centro do Rio.
Em sua fala, Luiz Fernando criticou a cobertura midiática da entrada das autoridades públicas na comunidade do Alemão pelo fato de ter sido realizada apenas pelos grandes meios de comunicação. “Infelizmente, dessa forma, tivemos apenas um ponto de vista da notícia.” Uma saída para esse cenário, segundo ele, é a criação de agências de comunicação em diversas comunidades da cidade. Esses polos de informação poderiam servir de ponto de contato com outras localidades, além de fonte para diferentes veículos de comunicação. “A agência poderia proporcionar um novo olhar de fatos como o que aconteceu no Alemão”, pondera.
Para Cássio Martinho, é preciso primeiro refletir sobre o que é e o que não é informação. Independentemente do veículo, deve-se deixar claro quais critérios de noticiabilidade são levados em consideração. “A notícia é sempre um elemento posterior ao fato”, assinala. “Entre o acontecimento e o que é publicado, existe uma produção de valor e de investimento, que vai balizar esses fatos. Aquilo que é notícia para mim, pode não ser para a imprensa”.
Apesar de reconhecer o valor dos meios de comunicação, Martinho defende que a mídia comunitária não precisa se espelhar na grande imprensa, que, segundo ele, muitas vezes foca sua atenção apenas no extraordinário. “O ordinário também tem seu valor”, afirmou fazendo referência aos fatos comuns do dia a dia. “Acho que podemos olhar o comum e ver o que pode ser notícia nesse cenário”, afirma.
Para Victor Ribeiro, os moradores não precisam ser jornalistas, nem ter tanta capacitação técnica para construir um processo livre de comunicação em suas comunidades. Em sua opinião, não há a necessidade de tecnologia de ponta para essas atividades. “Com equipamentos baratos e utilizando a internet – um canal mais viável economicamente – já é possível informar os moradores”, diz. “Eles podem construir um processo livre sem a necessidade de grandes aparatos tecnológicos.”
Luiz Fernando citou como exemplo de sucesso a iniciativa do jovem René Silva, do jornal ‘Voz da Comunidade’, que usou sua conta no Twitter para enviar notícias sobre o que estava acontecendo durante a invasão policial. “O público está interessado em outros pontos de vista. Reflexo disso foi o grande aumento de seguidores que ele recebeu ao longo da cobertura.”
O caso de René, que iniciou suas atividades com onze anos, é um exemplo que deu certo. Victor destacou que seu sucesso é prova de que existe uma demanda por uma comunicação local sem a mediação de grandes veículos. Para ele, comunicadores como René, que trabalham com informação dentro dessas regiões, precisam também firmar parcerias com outros veículos comunitários. “O segredo é conseguir que cada localidade gere sua comunicação de forma independente e transparente”, conta.
Para Victor, esses agentes têm um importante diferencial em relação aos grandes veículos de comunicação: o fato de fazerem parte da comunidade. “Eles não estão apenas mediando informações. Pelo contrário, interagem com os processos locais.” Segundo ele, a comunicação tem papel fundamental como fator de inclusão social. “Com essa interação é possível deflagrar mudanças”, destaca.

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