Entrevista ZEMOS98 – GESTAO CRIATIVA CULTURAL
SEVILLA – ESPANHA
Por Tadzia Maya
Como surgiu o coletivo?
Surgiu em um povoado (pueblo) como um festival de grupos de música, vj's e vídeos, a partir de coletivos que queriam mostrar seus trabalhos. Faziam-se convocatórias pela internet e não parava de chegar material, também para artes plásticas, literatura etc.
Em 2004, esse festival começa a ser realizado em Sevilla por falta de apoio político no pueblo. Neste momento o festival também começou a usar uma temática e a fazer pesquisas.
Qual o foco do festival?
A cultura audiovisual e a cultura digital dentro de processos de ensino e aprendizagem.
Como é financiado?
Até 2004 o festival era realizado com recursos humanos gratuitos e aí foi montada uma empresa de gestão cultural com 5 pessoas de sócios, apesar do coletivo somar mais gente,
E essa empresa faz quais serviços para se manter?
Páginas web, protótipos (?), projetos culturais, publicação de livros, oficinas e conferências por exemplo. Fazemos consultorias também.
O pessoal envolvido tem qual perfil?
Em alguns âmbitos nos chamam de educadores, em outros de ativistas ou jovens empreendedores, às vezes de artistas com estratégias em comunicação...
Como foi o início da empresa?
Usávamos computadores dos nossos pais... Não é a solução final ser uma empresa, somos empresa porque foi o que nos permitiu ser o que somos. Mas nós além de ser empresa somos também uma associação cultural e vamos manejando as duas.
Como são os cargos?
Não há cargos, estão nesse momento dedicando muito tempo pensando sobre este horário, estrutura e flexibilidade. Hoje trabalham 8h por dia. É difícil unir a disciplina necessária para a Infraestrutura com os preceitos da economia criativa.
Como fica a remuneração?
Ganhamos todos iguais, em torno de 1mil euros. No festival contratamos entre 20 a 30 pessoas e pagamos pois não aceitamos o voluntariado, pois acreditamos que é uma forma de precarizar o trabalho.
Como é a estrutura?
É por células. A que engloba todas é a célula estratégica que se reúne periodicamente, mais ou menos de 2 em 2 semanas com ata. Há a célula de comunicação onde se pensa também a comunicação interna, onde temos um wiki e uma página web externa. Todos usam o wiki mas têm um moderador e agora usamos o media wiki com um livro de estilo, onde se pode consultar se o que você quer incluir é um novo projeto, uma nova página, se é só um texto. Usamos também o google docs por ser em tempo real. Ainda temos a célula audiovisual e a célula educação. Há uma pessoa responsável por cada uma, mas elas não são estanques, todos compartilham todas.
O primeiro mesmo e mais importante de tudo é a comunicação interna
Qual o desafio hoje?
Um deles é redigir nosso estatuto interno, que estamos fazendo, com regras para nós mesmos. O mais importante é estar sobre um papel o que faz cada um pois o “eu pensava”, “você disse”, “eu entendi assim” que fazem as confusões no coletivo. É muito bom ter um contrato para cada membro para ter onde recorrer, onde lembrar o que foi acordado, saber quais pontos competem a cada um. Cada um é responsável por uma coisa e co-responsável por todos, isso é autogestão, mas todos fazerem tudo não está certo. Gosto muito da frase “mandar obedecendo” que é um dito zapatista, pois a hierarquia não implica que um mande no outro, é horizontal.
Como é a tomada de decisões?
Por consenso. Cada sócio tem autoridade moral em um tema. Antes todas as decisões nós dizíamos que eram grandes, então até decidir a empresa de limpeza do festival chamávamos reunião geral. Agora não mais, pois foi necessário para acabar com reuniões eternas. No entanto, quando há um posicionamento político chama-se a reunião geral.
Há também o paradoxo do coletivo pois cada pessoa é em si mesma o coletivo.
Como se dá a entrada de novos membros?
É difícil... Quem entra deve fazer um esforço de complexidade. Tem uma pessoa que tutoriza a pessoa que entra e esse tutor depende de em qual célula a pessoa entrou e ensina a ela as ferramentas básicas do grupo. Tem muita gente querendo sempre entrar no Zemos, mas estamos sempre contratando fotógrafos, motoristas, músicos....
Não há um protocolo de acesso. Na verdade não sabemos a diferença entre quem são os sócios e quem não é. Acredito que os sócios têm mais trabalho, mais responsabilidades, assinar papéis, crédito bancário.... Seriam o núcleo, aqueles que não se vão. Precisamos até resolver isso porque não sabemos a diferença...
O que é o Zemos98 afinal?
Somos um laboratório, inventando um modelo, que pode se equivocar e por isso é preciso ter confiança entre os membros.
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Tadzia Maya
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